Objetivo é promover produção de comida mais sustentável e impedir que expansão das lavouras acabe com ecossistemas
Marco Túlio Pires, do Rio de Janeiro

Colheitadeira em lavoura de soja em uma fazenda de Sorriso, Mato Grosso, município que se destaca no mapa do PIB do IBGE (Tiago Queiroz/Agência Estado)
Agricultores e ambientalistas devem - ou deveriam - trabalhar juntos para impedir que a expansão das plantações "engula" ecossistemas e prejudique o equilíbrio entre a produção de comida e o desenvolvimento sustentável do planeta. A proposta, bem mais equilibrada que os extremos de parte a parte, como na discussão sobre o Código Florestal, foi lançada nesta terça-feira no Fórum de Ciência, Inovação e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável. O encontro reúne 990 cientistas de 75 países para produzir um documento com sugestões aos chefes de estado que participarão da reunião de cúpula da Rio+20 entre os dias 20 e 22 de janeiro. O painel também discutiu como o aquecimento global pode afetar a segurança alimentar e a distribuição de comida no globo.
De acordo com Tim Benton, ecologista da Universidade de Leeds, no Reino Unido, 25% dos gases que aceleram o efeito estufa são provenientes da agricultura. Ao todo, o planeta possui uma área plantada de 4,9 bilhões de hectares. Por isso melhorar as práticas agrícolas pode ter um impacto significativo no clima do planeta. “O problema é que não conseguimos medir a sustentabilidade na agricultura”, diz Benton. “As lavouras causam impacto que muitas vezes não são percebidos localmente, como a poluição de rios por meio de agrotóxicos, que podem contaminar peixes e causar doenças em seres humanos e outros animais.”
Lado a lado - Benton acredita que uma forma de transformar a agricultura em uma prática mais sustentável é colocar ambientalistas e agricultores trabalhando lado a lado. “Além de produzir comida, temos que ampliar os ‘serviços de ecossistema’”. O pesquisador se refere a práticas de tratamento de água, polinização e manutenção dos inimigos naturais das plantas, dentro e ao redor da lavoura. “São ações que gerenciam a fertilidade do solo, a reciclagem de lixo antes e depois da colheita e ao mesmo tempo cuidam do equilíbrio natural do ambiente”, diz.
Para Benton, isso pode significar dividir a área cultivada em duas. Uma para o plantio e outra para concentrar os serviços de ecossistema, com estações de tratamento de água, colônias de polinização e a manutenção dos inimigos naturais das plantas. Benton comparou a prática com a linha de produção de uma fábrica de carros. “Enquanto uma parte cuida da produção de comida, a outra mantém o equilíbrio do ambiente”, diz. “Pode ser a saída viável em muitos casos”, acredita.
Lavoura resistente – As mudanças climáticas também podem afetar o preço das commodities alimentares, como arroz e soja. Ram Badan Singh, da Academia Indiana de Ciências Agrícolas, afirma que a commodity mais afetada será o trigo. “O preço pode aumentar mais de 90% até 2050 por causa do aquecimento global”, diz. Isso porque o alimento pode ficar escasso ou encontrar dificuldades para crescer nas regiões apropriadas. Por isso, a ciência precisará desenvolver plantas mais preparadas para um clima mais agressivo. “Precisamos de sementes mais resistentes à falta de água, à salinidade, ao calor e que gerem plantas mais resistentes a pestes”, diz.
O pesquisador afirma que ainda há muito potencial para aumentar a produção de alimentos. Melhorando técnicas agrícolas, por exemplo, seria possível produzir 6.000 quilos de trigo por hectare, o dobro do que é produzido hoje. No caso do arroz, o impacto seria ainda maior. “Se aproveitássemos todo o potencial de produção, seria possível produzir 8.000 quilos de arroz por hectare”, diz. Atualmente, apenas 2.000 quilos são produzidos na mesma área.
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Edificações

Um terço da energia utilizada no mundo é gasta dentro de prédios, e o setor de edificações é o que mais emite gases no planeta. O setor de construção civil é responsável por mais de um terço do consumo de recursos, incluindo 12% do consumo de água potável. O relatório GEI considera necessários investimentos de 300 bilhões de dólares por ano até 2050 no setor. Prédios públicos, como escolas e hospitais, são ideais para começar a estimular a indústria da construção civil a adotar práticas sustentáveis: melhor ventilação e aproveitamento da luz natural, por exemplo. O setor tem o potencial de garantir a economia de um terço no consumo de energia. No Brasil, o projeto do conjunto habitacional Rubens Lara, em Cubatão, foi reconhecido pela ONU, através do Sushi (sigla em inglês para iniciativa para habitação social sustentável). Os prédios têm janelas maiores e aquecem a água com energia solar. Construir dessa forma, atualmente, custa 10% a mais.
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